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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Epopéia de Gilgamesh, a origem do Gênesis


A originalidade nunca foi característica das grandes religiões atuais. Elas estão sempre se adaptando naquilo que é politicamente conveniente para elas em determinadas épocas, ou até mesmo se misturando umas com as outras, resultando numa verdadeira salada de crenças. Como todo fenômeno irracional e emergente, o resultado é essa grande confusão de religiões e práticas rituais, muitas delas divergentes, nos dias de hoje. Até aí tudo bem, o problema é quando as pessoas são doutrinadas para pensar que tais crenças existiram desde sempre, ou que elas são "únicas" e "originais", ganhando com isso um sentido de importância "sobrenatural" ou "divino". Por isso que quase ninguém ouviu falar da Epopéia de Gilgamesh, a mais antiga obra literária da humanidade, que deu origem à inúmeros textos religiosos ou os influenciou, incluindo o Gênesis bíblico. E quase ninguém sabe que os pontos em comum entre estas crenças não são apenas coincidência, mas tem na verdade uma origem comum.



Até meados do século XIX, tudo o que se sabia sobre a antiga Mesopotâmia - hoje Iraque - e os grandes impérios e civilizações que ali existiram, era o que estava escrito na Bíblia, que por sinal dá informações escassas e pouco reveladoras a respeito, já que ela tem mais interesse na história - contada de forma mais ou menos mitológica - do povo hebreu. Foi quando arqueólogos encontraram a biblioteca de Assurbanipal, imperador assírio que viveu há mais de 2600 anos, na antiga cidade de Nínive. Lá haviam tábuas de argila contendo escrita com sinais que mais tarde foi batizada de cuneiforme. Com isso começou uma "corrida do ouro" para encontrar evidências arqueológicas dos relatos bíblicos na região, revelando nas escavações, ruínas de cidades-estado como Uruk, Ur e Nipur, que junto com outras foram o berço da nossa civilização atual.


As tábuas encontradas na biblioteca em Nínive foram traduzidas pela primeira vez em 1872 pelo arqueólogo britânico George Smith, revelando ao mundo um trecho da Epopéia de Gilgamesh; o relato de um Dilúvio global, muito anterior ao de Noé e provavelmente "plagiado" por este, por ter várias similaridades. Esta descoberta abalou toda a comunidade científica e religiosa do século XIX, laicizando e modificando completamente o método de pesquisa dos arqueólogos e historiadores, e, principalmente, abrindo espaço para a honestidade e falseabilidade científica, pelo questionamento que colocaria à prova a veracidade histórica dos textos bíblicos. Particularmente nos últimos quarenta anos, tem sido realizadas muitas discussões acerca do que é mitológico e histórico nos relatos do Pentateuco, os 5 primeiros livros da Bíblia que tratam da criação do mundo e a origem do Homem e seus primeiros passos na Terra, na origem do povo israelita e das próprias escrituras sagradas do Cristianismo, tudo graças às descobertas feitas no século XIX.


Tábua número IX da Epopéia de Gilgamesh, contendo a história do Dilúvio, em língua acádia

A Epopéia de Gilgamesh é um grande compilado de poemas que teria sido escrito há mais de 4000 anos. Aliás, ela talvez seja derivada de tradições ainda mais antigas, principalmente a narração do Dilúvio, que teria se baseado no antigo épico acádio Atrahasis, que por sinal teria se originado de tradições de tempos pré-históricos. Gilgamesh, foi um rei semi-lendário e herói, filho de um "demônio" ou "fantasma", que governou o povo sumério por 126 anos, e pelos seus feitos foi considerado o maior antecessor dos reis sumérios e depois venerado como um deus pelos antigos sumérios e acádios. Historicamente, teria sido um monarca do fim do segundo período dinástico da Suméria, há 4500 anos.


A Epopéia narra em grande parte a relação de Gilgamesh com seu amigo Enkidu, um homem selvagem criado pelos deuses como um equivalente seu, para evitar que Gilgamesh oprimisse o povo da cidade de Uruk, que governava. Enkidu luta com Gilgamesh e o derrota, e este, admirado, torna-se seu aliado e companheiro de aventuras. Juntos realizam diversas missões, que descontentam os deuses, derrotando monstros enviados por estes, como Humbaba. A parte final do épico é quando Enkidu morre, e transtornado, Gilgamesh vai em busca da imortalidade, até que Utinapishtim, o herói imortal do dilúvio (adaptado pelo Noé bíblico), lhe diz que jamais a encontraria. No entanto, lhe transmite vários ensinamentos sobre cultos perdidos, que Gilgamesh traz de volta para Uruk. Gilgamesh também foi notório pelas diversas construções que levantou na cidade.


O mais curioso, porém, na narrativa do poema, são as semelhanças mitológicas dos mitos da criação e do dilúvio com os da Bíblia. Enkidu é criado inocente, sem a malícia do Homem (exatamente como Adão e Eva), e pastava e vivia com os animais da floresta. Gilgamesh envia uma prostituta do templo da deusa Ishtar para seduzí-lo (igual a serpente faz com Eva, ao oferecer-lhe o fruto proibido) e trazê-lo para Uruk, com sucesso. Enkidu perdeu sua inocência e seu poder selvagem, tornando-se conhecedor do bem e do mal. Nesta comparação com a tentação do Eden, podemos identificar as idéias ao invés dos fatos. A prostituta sagrada, condenada também em outros livros da Bíblia, pode ser encarada como o fruto proibido, a serpente e a própria Eva, que tem o poder de seduzir o homem e tirar sua inocência com falsas promessas.


Representação de Gilgamesh


Quando Gilgamesh encontra Utinapishtim, este narra-lhe como conquistou a imortalidade; Enlil, deus da terra e do mar, desgostoso da humanidade, decide destruí-la com um dilúvio. No entanto, Ea, deus da água doce e da sabedoria, avisa Utinapishtim das intenções de Enlil e lhe instrui a construir uma ARCA onde ele colocaria toda sua família, artesãos e animais que existiam, que se salvariam do dilúvio. Enlil envia uma grande tempestade que inunda toda a Terra por seis dias e seis noites, e matou todas as pessoas que não estavam na Arca. Ao fim da chuva, Utinapishtim soltou uma pomba, depois uma andorinha, depois um corvo, para ver se eles achavam terra seca e firme após a inundação. Já em terra firme, ele faz sacrifícios a Ea, que lhe salvara do dilúvio. Não precisa nem falar das semelhanças dessa história com a do dilúvio bíblico... Furioso com Ea, Enlil decide transformar Utinapishtim em um imortal, para que a maldição de que nenhum mortal sobreviveria ao dilúvio que ele mandou se cumpra.


Utinapishtim diz a Gilgamesh que ele nunca poderá se tornar imortal. Frustrado, ele prepara-se para voltar a Uruk, mas no caminho a esposa de Utinapishtim vai ao encontro dele e diz que há uma planta mágica no fundo do mar, que, se ele comer, o tornará imortal (mais uma vez tem uma mulher/Eva/serpente/prostituta seduzindo um homem na história...). Arriscando a própria vida, o herói consegue obter a planta, mas por compaixão decide repartí-la com o povo de Uruk. No caminho para casa, uma serpente (outra !!!) marinha rouba-lhe a planta, fazendo-o perder para sempre o segredo da imortalidade, o que foi uma baita sacanagem com o coitado do herói.


No livro de Gênesis não há semelhanças apenas com a Epopéia de Gilgamesh, mas ainda com o Mito de Dilmum, também da Suméria, onde o deus Enki e a deusa Nintu habitavam sozinhos num mundo de delícias, bem semelhante ao Jardim do Éden. Portanto, amiguinho, se você é religioso, principalmente se for cristão, nunca critique outras religiões ou diga "dessa fonte nunca beberei", pois boa parte daquilo que você acredita certamente é chupação, ctrl + c e ctrl + v de crenças pagãs e civilizações muito mais antigas. Pois, como disse Fernand Braudel, “O passado das civilizações nada mais é que a história dos empréstimos que elas fizeram umas às outras ao longo dos séculos ...”


10 comentários:

jrMarcondes disse...

Cara, prá vc dizer que o Cristianismo copiou fatos ou mitos de outros povos, vc precisa ter ao menos conhecimento sobre os originais da Biblia, já ouviu falar nos MANUSCRITOS DO MAR MORTO? Senão procure saber! Procure mais sobre a origem da Bíblia e verá que seus primeiros manuscritos datam de pelo menos 1500 anos antes de Cristo, ou seja pelo menos 800 anos antes da narracão mesopotamica...
Seria legal vc se informar melhor antes de tentar emitir algum juízo parcial sobre algo...
Álias se o mito do Gilgamesh é original...te digo uma coisa...a ARCA descrita nesse conto é uma caixa quadrada, à qual no meio aquático ficaria girando sobre o proprio eixo eternamente, já a ARCA descrita na Bíblia tem medidas as quais foram submetidas a exames de peritos navais e constataram que tal navio poderia muito bem estar nos dias de hoje navegando pelos mares de qualquer lugar do mundo...então...sabichão...por favor me explique porque o conto original tem óbvias falhas náuticas e a cópia tem detalhes precisos de engenharia...
Só a título de informacão prá vc que pretende tirar uma onda com a História narrada na Bíblia, sabia que a ARCA DE NOÉ (e não de Gilgamesh) foi encontrada e tem os exatos detalhes métricos narrados na Bíblia, incluindo a localizacao geográfica...então Bíblia leva 10 enquanto que a sua opinião gilgameshiana...
Estude melhor cara antes te tentar dirigir a opinião dos outros, senão o que pode entrar em cheque é a sua credibilidade.
Só isso já põe em cheque a sua teoria, evidentemente não vou comentar os demais episódios por falta de provas, mas só essa já me basta para concluir que a Bíblia foi inspirada por um autor que usou de uma fonte muito mais fidedigna do que os autores Mesopotamios...
Cordial abraco de um Cristão, o qual aguarda a volta de Cristo, cuja eminência já se manifesta de acordo com as profecias bíblicas...

marcondes

Ciro disse...

O mito de Gilgamesh e mais interessante ao ser lido com as fontes das tabuas da biblioteca de Uruk do período da Quarta dinastia de Kish e da terceira de Uruk encontradas em um Zigurate pequeno em Uruk, e curioso ver como os hebreu se apropriaram de um cultura que não era sua e que já havia sido surrupiadas por seus parentes semitas (acádios) das mãos dos sumerianos.

AJPR disse...

Mais gente que não leu direito o artigo...


Cara, prá vc dizer que o Cristianismo copiou fatos ou mitos de outros povos, vc precisa ter ao menos conhecimento sobre os originais da Biblia, já ouviu falar nos MANUSCRITOS DO MAR MORTO? Senão procure saber! Procure mais sobre a origem da Bíblia e verá que seus primeiros manuscritos datam de pelo menos 1500 anos antes de Cristo, ou seja pelo menos 800 anos antes da narracão mesopotamica...


Tá, e a versão mais antiga do mito de Gilgamesh é de mais de 2000 anos a.c., e veio de outros ainda mais antigos da Pré-História. Quem copiou quem, então ?


Seria legal vc se informar melhor antes de tentar emitir algum juízo parcial sobre algo...


Mimimimimimi de quem sequer leu o artigo.


Álias se o mito do Gilgamesh é original...


Nunca disse tal coisa no artigo. Leia-o de novo, Troll.


te digo uma coisa...a ARCA descrita nesse conto é uma caixa quadrada, à qual no meio aquático ficaria girando sobre o proprio eixo eternamente, já a ARCA descrita na Bíblia tem medidas as quais foram submetidas a exames de peritos navais e constataram que tal navio poderia muito bem estar nos dias de hoje navegando pelos mares de qualquer lugar do mundo...então...sabichão...por favor me explique porque o conto original tem óbvias falhas náuticas e a cópia tem detalhes precisos de engenharia...


Explique você, que é quem está fazendo estas afirmações - ou melhor, vomitando bobagens sem sentido - sem quaisquer provas e fontes. Inversão do ônus da prova é uma falácia muito feia, Troll.


Só a título de informacão prá vc que pretende tirar uma onda com a História narrada na Bíblia, sabia que a ARCA DE NOÉ (e não de Gilgamesh) foi encontrada e tem os exatos detalhes métricos narrados na Bíblia, incluindo a localizacao geográfica...


A tal Arca do teu conto de fadas bíblico já foi "encontrada" pelo menos umas 20 vezes em locais diferentes. E não me venha com aquele vídeo fake do Youtube de um cineasta que "filmou" o interior da Arca, e "fotos de satélite" da Arca sobre o Monte Ararat.


então Bíblia leva 10 enquanto que a sua opinião gilgameshiana...


Errado, sua opinião pseudo-bíblica de Troll leva 0 enquanto que as conclusões de arqueólogos e historiadores, baseadas em evidências físicas e documentais continuam sendo verdadeiras apesar de tudo, quer tu goste ou não.


Estude melhor cara antes te tentar dirigir a opinião dos outros, senão o que pode entrar em cheque é a sua credibilidade.


E por acaso você tem credibilidade fora da tua igreja, Troll ?


Só isso já põe em cheque a sua teoria, evidentemente não vou comentar os demais episódios por falta de provas, mas só essa já me basta para concluir que a Bíblia foi inspirada por um autor que usou de uma fonte muito mais fidedigna do que os autores Mesopotamios...


Você tem apenas a tua vontade de acreditar, nada mais que isso. Só lamento.


Cordial abraco de um Cristão, o qual aguarda a volta de Cristo, cuja eminência já se manifesta de acordo com as profecias bíblicas...


Deixe de ser hipócrita. Você vem aqui num tom desdenhoso e agressivo tirando conclusões sem sequer ter lido o artigo, depois vem querendo dar uma de benevolente comigo com um ar de superioridade. Portanto, você está BANIDO e suas postagens não mais serão aprovadas. Passar bem.


P.S.: O certo é "iminência" e não "eminência".


P.S.2: Sobre profecias, recomendo que leia o artigo (apesar de eu achar que não vai ler):


http://www.tecnounderground.tk/2011/11/previsao-para-2012-mesma-enganacao-de.html

AVE CESAR disse...

já vi cara idiota, mas esse Marcondes é demais, "a arca de noé poderia flutuar segundo cientistas", mas cadê as fontes? Você que não sabe seu imbecil, barco nenhum com essas medidas de lastros e feitos de madeiras, jamais poderia suportar seu próprio peso, quanto mais, com todos os animais terrestres juntos dentro dela, só você com sua inteligência de lesma poderia aceitar uma coisa dessas.

AnArquiA B. disse...

Vc perdeu uma boa chance de despertar o caráter humanista, solidário e pacífico do ser humano. É óbvio que TODAS as crenças chupinharam ou herdaram idéias e concepções umas das outras ao longo da História. Ninguém com um pouco de cultura argumentaria que a Bíblia é um livro original: ela é o relato de uma experiência através dos séculos.
Aliás, ninguém com um pouco de cultura argumentaria que NADA é original. Ou vc acha que as semelhanças entre a Teoria da Evolução e a evolução que os hindus crêem a milênios é mera coincidência?

AJPR disse...

Talvez seja, pois até o momento não há fontes que atestam que Darwin teve contato com a religião hinduísta ou foi influenciado por ela.

AnArquiA B. disse...

Talvez não XD Mas sério, foi só uma comparação infeliz, não estava insinuando um contato direto.

De qualquer forma, se algum bom cristão ler seu artigo (não me oponho a nada que está escrito nele, só a forma como foi escrito) talvez pare de ter preconceito contra as outras religiões, das quais o cristianismo é parente tão próximo.

Ou talvez não.

AJPR disse...

Se se opõe a como ele foi escrito, talvez queira escrever um artigo da forma que acha melhor, o qual eu terei prazer em discutir aqui nos comentários, concordando ou discordando dele. A casa está de portas abertas. ;)

AnArquiA B. disse...

Claro que quero, meu querido amigo, mas aí seria outro blog XD

Abraço e mantenha as luzes acesas o/

AJPR disse...

Então mãos à obra, amiguinho. :)


Bração pra ti.

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